A Bíblia (plural grego de biblion: “livro”) é o livro mais lido e conhecido em todo o mundo.
Em 1534, quando Martinho Lutero traduziu sua Bíblia
alemã, circulavam entre os povos 15 traduções. Em 1800 esse número aumentou
para 75. Em 1900 subiu para 567 traduções. Atualmente, a Bíblia completa ou em
partes, foi traduzida para mais de 2000 línguas e dialetos.
A primeira tradução da Bíblia inteira para o idioma
português é a de João Ferreira de Almeida, datada de 1748. No Brasil, além das
tradicionais versões Corrigida e Atualizada, há inúmeras traduções ou
versões. Por exemplo: Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Nova Versão
Internacional, Bíblia Viva, Bíblia de Jerusalém, entre outras.
Qual delas, afinal, melhor reflete o texto original?
Inicialmente, faz-se mister ressaltar (para decepção
de alguns) que não há nenhum manuscrito original da Bíblia. Os que existem são
cópias de cópias, feitas ao longo dos séculos. Todavia, trata-se (para
confortos dos decepcionados) de verdadeiras cópias dos antigos manuscritos
originais.
Através da crítica textual (comparação das diversas
traduções) descobre-se que menos de 1% dos textos apresentam contradições ou
variações. Portanto, 99% do conteúdo da Bíblia têm o seu sentido preservado.
Vale lembrar que a crítica textual é um dos métodos usados com eficiência para
se avaliar a autenticidade de documentos históricos, tais como os de
Aristóteles, Homero, Platão etc.
As diferenças de vocábulos entre as diversas versões
não altera em nada o sentido original. Vejamos esse exemplo extraído do Livro
de Isaías, capítulo 1, versículo 18:
Corrigida: “Vinde, então,
e argui-me, diz o Senhor” (Is.
1:18a);
Atualizada: “Vinde, pois,
e arrazoemos, diz o Senhor”;
Bíblia na
Linguagem de Hoje: “O Deus Eterno diz: ‘Venham cá, vamos discutir este assunto”;
Bíblia do
Pão: “Vinde, debatemos - diz o
Senhor”.
Bíblia Ave
Maria: “Pois bem, justifiquemo-nos,
diz o Senhor.”
Bíblia
Tradução Ecumênica: “Vinde e discutamos,
diz o Senhor”.
Os verbos arguir,
arrazoar, discutir, justificar e debater
são equivalentes, isto é, possuem sentido comum.
Ainda cerca deste mesmo versículo, na Corrigida lê-se: “Ainda que os vossos pecados sejam vermelhos
como o carmesim, se tornarão brancos
como a lã”; na Bíblia Viva: “Mesmo que os seus pecados sejam vermelhos como sangue, Eu os deixarei brancos como o cal”. Numa tradução
africana, numa região onde não havia neve, traduziu-se “brancos como a neve” por “brancos
como a polpa do coco”. Ou seja:
as expressões branco como a neve, branco como o cal e branco como a polpa do coco transmitem
igualmente a ideia original, ou seja, que Deus pode tirar toda a mácula do
pecado.
Ao traduzir a Bíblia para uma nova língua, os
tradutores muitas vezes levam em conta o contexto cultural do povo que a fala.
Por exemplo, numa determinada língua indígena, na qual o nosso pãozinho era
alimento desconhecido, na passagem bíblica em que Jesus é chamado “o pão da
vida”, empregou-se “mandioca da vida”, uma vez que a mandioca era o alimento
principal da tribo.
Algumas traduções ou versões, no entanto, são
consideradas tendenciosas, pois foram adequadas aos fins doutrinários de
determinados grupos religiosos ou ideológicos. Há algum tempo, por exemplo, foi
publicada nos EUA uma versão bíblica denominada “politicamente correta”, em que
se extraiu a palavra “escuridão”, substituindo-a por “noite”, pois segundo os
seus organizadores, o sentido “pejorativo” da palavra “escuridão” poderia ser
associado a pessoas de pele negra. Nesta mesma versão, Deus não é chamado Pai,
e sim Pai-Mãe, por causa do suposto sentido autoritário e machista do termo
Pai. Outro caso recai sobre a famigerada Tradução do Novo Mundo, na qual, por
exemplo, extraiu-se a palavra “cruz”, que foi substituída por “estaca de
tortura”: “Se alguém quer vim após mim,
repudie-se e apanhe a sua estaca de tortura, dia após dia, e siga-me
continuamente” (Lc. 9:23). Nesta mesma versão traduziu-se João 1:1, da
seguinte forma: “No princípio era a
palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus”. Note-se o
uso do artigo indefinido “um” (um deus), bem como o “d” minúsculo do nome DEUS
(deus).
E, para finalizar, faço menção do famoso Salmo 91, o
qual, dependendo da tradução ou versão, assume diferentes estilos, porém, sem
alterar o seu sentido “original”. Vejamos quão belíssimas são essas variedades
de vocábulos...
Edição Revista e Corrigida (Tradução de João Ferreira de Almeida): “Aquele que habita no esconderijo do
Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu
Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei”.
Edição Revista e Revisada (Tradução de João Ferreira de Almeida): “Aquele que habita no esconderijo do
Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu
refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio”.
Versão Vida Nova: “O que habita no esconderijo do
Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: Meu refúgio e meu
baluarte, Deus meu, em quem confio”.
Bíblia na Linguagem De Hoje: “Aquele que
procura segurança no Altíssimo Deus e se abriga na sombra protetora do
Todo-Poderoso pode dizer ao Deus Eterno: ‘Tu és o meu defensor e o meu
protetor. Tu és o meu Deus, e eu confio em ti”.
Bíblia de Jerusalém: “Quem habita na proteção do
Altíssimo pernoita à sombra de Shadai, dizendo a Iahweh: Meu abrigo, minha
fortaleza, meu Deus, em quem confio”.
Tradução da Vulgata (Padre Matos Soares): “O que
habita no esconderijo à sombra do Altíssimo, na proteção do Deus do céu
descansará. Dirá ao Senhor: tu és o meu amparador, e o meu refúgio. É o meu
Deus, nele esperarei”.
Tradução Ecumênica: “Aquele que habita onde se
esconde o Altíssimo e passa a noite à sombra do Deus Soberano. – Do Senhor eu
digo: ‘Ele é o meu refúgio, minha fortaleza, meu Deus: nele eu confio”.
Tradução de André Chouraqui (Judaica): “Sentado
no segredo do Supremo, ele passa a noite à sombra de Shadaï. Digo a IhvH: Meu
abrigo, meu alçapão! Elohaï, nele confio”.
Bíblia Ave Maria: “Tu que habitas sob a proteção
do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente, dize ao Senhor: Sois meu
refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio”.
Como você deve ter
percebido, não obstante a ideia transmitida ser idêntica em todas as versões ou
traduções, verifica-se uma enorme variedade de estilo e de vocabulários.
Contudo o importante aqui é que a integridade dos manuscritos principais
permanece inalterada em todos os textos.
É isso!
Iba Mendes
São Paulo, 1998.
São Paulo, 1998.
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