Os sinos
De: Edgar Allan Poe
Tradução: Manuel de Souza e Azevedo
OS SINOS DE PRATA
Ouve... passa um trenó batendo o sino.
Claro, argentino,
Em tênue som de álacre melodia,
Vai batendo a tinir e vibra e oscila,
Se agita e oscila pela noite fria.
Entanto no alto límpida cintila
A Via Láctea num fulgor divino,
E constelando o céu em luz palpita
Seguindo num deleite cristalino,
Em ritmo musical o tempo esquivo,
Que vai correndo fugitivo,
Na trepidação do sino que se agita,
Trepida e oscila, tine e palpita,
Palpita e tine,
Tilinta e tine, tine e tilinta,
Tine e retine
Tine e tilinta.
OS SINOS DE OURO
Ouve... passa um noivado. Os sinos de ouro
Batem todos em coro,
E o tom sonoro de feliz agouro
Mil venturas vibrando prenuncia.
Vão pela noite, límpida e encantada,
Soltando ao vento um vento de alegria.
Em áureas notas liquida ressoa
Essa canção de amor, que no ar flutua,
Enquanto a noiva, contemplando a lua,
Sonha enlevada.
Como na torre o som vibra e reboa,
E se avoluma quando à terra desce,
Sobe ao céu e recresce!
Como em tom augural todos palpitam,
Na exaltação em que no ar se agitam,
Todos a badalar carrilhonando.
Carrilhonando, ecoando, ecoando
Ecoando, ecoando,
O compasso em cadencia dando, dando,
Alto, mais alto, dando, dando, dando!
OS SINOS DE BRONZE
Ouve... é o sino de bronze. Toca a fogo
E ulula e brame em lúgubre regougo.
Em sua turbulência que terror
Se espalha num clamor!
na tormentosa noite despertando
Os ecos vêm, no bronze badalando.
No atropelo não pode modular
Nem compassar o som!
Brados vão em tumulto pelo ar,
Sem cadencia, nem tom,
Pedindo num clamor clemência ao fogo.
Mas a súplica é vã que é surdo o fogo.
E crepitando em salto.
Livre de todo o freio,
A chama vai, alto, alto, alto, mais alto,
Num resoluto anseio
De agora ou nunca mais ao céu chegar;
Enquanto os sinos a tocar,
A tocar, a dobrar,
Clamam num brado uníssono de dor,
Desespero e pavor.
Em rebate, dobrando, badalando
Um grito de terror voa ululando,
E o rugido do bronze, ecoando, ecoando
Bradar ao longe até parece
Que o fogo aumenta ou se amortece
E que o perigo cede ou cresce
Bramindo a voz do bronze o seu clamor
Espalha ao longe;
Ulula e ecoa, em lúgubre clangor,
Ao longe, ao longe,
Ao longe, ao longe, ao longe, ao longe,
Ao longe, ao longe.
OS SINOS DE AÇO
Ouve... O sino dobrando, o sino de aço.
Espalha pelo espaço
Um tom solene em um lento compasso.
E pela noite silenciosa e triste
Flutua e vibra o som.
Como persiste
Melancólica ameaça no seu tom!
Todos os sons que estrugem
No seu côncavo rubro de ferrugem
Não passam de um gemido.
Sineiro solitário,
No alto do campanário,
O coração de certo empedernido,
Vai dobrando, dobrando, badalando,
Vai dobrando, dobrando,
Vai dobrando a finado
Num monótono tom lento e abafado
Seu coração gelado e indiferente.
Não é humano, não! Nada mais sente.
Um fantasma parece
E mecanicamente
Vai batendo, batendo, vai tangendo
O sino lentamente,
Num sussurro monótono de prece,
Num compasso monótono de réquiem,
E se avoluma o réquiem
No côncavo do sino, que estremece,
Que balança e palpita
Que geme e que se agita,
Na cadencia do ritmo batendo
Batendo, soluçando, esmorecendo,
Ao longe, além, além.
Batendo lentamente,
Ininterruptamente,
Em continuo compasso,
O sino de aço
Vai batendo, batendo, vai batendo.
Lento espalhando, lento, passo a passo,
Além, além, além
gemido, um soluço pelo espaço
Além, além, além, além além,
Além, além.
Ouve... passa um noivado. Os sinos de ouro
Batem todos em coro,
E o tom sonoro de feliz agouro
Mil venturas vibrando prenuncia.
Vão pela noite, límpida e encantada,
Soltando ao vento um vento de alegria.
Em áureas notas liquida ressoa
Essa canção de amor, que no ar flutua,
Enquanto a noiva, contemplando a lua,
Sonha enlevada.
Como na torre o som vibra e reboa,
E se avoluma quando à terra desce,
Sobe ao céu e recresce!
Como em tom augural todos palpitam,
Na exaltação em que no ar se agitam,
Todos a badalar carrilhonando.
Carrilhonando, ecoando, ecoando
Ecoando, ecoando,
O compasso em cadencia dando, dando,
Alto, mais alto, dando, dando, dando!
OS SINOS DE BRONZE
Ouve... é o sino de bronze. Toca a fogo
E ulula e brame em lúgubre regougo.
Em sua turbulência que terror
Se espalha num clamor!
na tormentosa noite despertando
Os ecos vêm, no bronze badalando.
No atropelo não pode modular
Nem compassar o som!
Brados vão em tumulto pelo ar,
Sem cadencia, nem tom,
Pedindo num clamor clemência ao fogo.
Mas a súplica é vã que é surdo o fogo.
E crepitando em salto.
Livre de todo o freio,
A chama vai, alto, alto, alto, mais alto,
Num resoluto anseio
De agora ou nunca mais ao céu chegar;
Enquanto os sinos a tocar,
A tocar, a dobrar,
Clamam num brado uníssono de dor,
Desespero e pavor.
Em rebate, dobrando, badalando
Um grito de terror voa ululando,
E o rugido do bronze, ecoando, ecoando
Bradar ao longe até parece
Que o fogo aumenta ou se amortece
E que o perigo cede ou cresce
Bramindo a voz do bronze o seu clamor
Espalha ao longe;
Ulula e ecoa, em lúgubre clangor,
Ao longe, ao longe,
Ao longe, ao longe, ao longe, ao longe,
Ao longe, ao longe.
OS SINOS DE AÇO
Ouve... O sino dobrando, o sino de aço.
Espalha pelo espaço
Um tom solene em um lento compasso.
E pela noite silenciosa e triste
Flutua e vibra o som.
Como persiste
Melancólica ameaça no seu tom!
Todos os sons que estrugem
No seu côncavo rubro de ferrugem
Não passam de um gemido.
Sineiro solitário,
No alto do campanário,
O coração de certo empedernido,
Vai dobrando, dobrando, badalando,
Vai dobrando, dobrando,
Vai dobrando a finado
Num monótono tom lento e abafado
Seu coração gelado e indiferente.
Não é humano, não! Nada mais sente.
Um fantasma parece
E mecanicamente
Vai batendo, batendo, vai tangendo
O sino lentamente,
Num sussurro monótono de prece,
Num compasso monótono de réquiem,
E se avoluma o réquiem
No côncavo do sino, que estremece,
Que balança e palpita
Que geme e que se agita,
Na cadencia do ritmo batendo
Batendo, soluçando, esmorecendo,
Ao longe, além, além.
Batendo lentamente,
Ininterruptamente,
Em continuo compasso,
O sino de aço
Vai batendo, batendo, vai batendo.
Lento espalhando, lento, passo a passo,
Além, além, além
gemido, um soluço pelo espaço
Além, além, além, além além,
Além, além.
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