“...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.
”
Machado de Assis,
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
"Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro."
Nelson Rodrigues
A mercantilização das relações humanas não é um fenômeno específico da era moderna. Não aludo, porém, ao sistema social e econômico fundado na escravização de pessoas, como aquele que vigorou no Brasil até o ano de 1888. Refiro-me ao tipo de negócio que se dá deliberadamente entre todas as classes e em todas as épocas sob o amparo das etiquetas sociais do tempo...
É o ancião decrépito e endinheirado
que se torna jovem e bonito aos olhares de mulheres belas e saudáveis; é o
rapaz forte e sarado que se deixa apaixonar pelos encantos da idosa rica e cheia de reumatismos;
é a recepcionista mal assalariada e endividada que não resiste às propostas
indiscretas do chefe bondoso e casado; é o motorista másculo e grosseirão que de
um momento para o outro se enche de amor pela vetusta sexagenária com três casas na
praia e uma conta no Itaú Personnalité; é a menina pobre da
periferia que escuta a buzina de um carrão como se fosse o som harmonioso da Quinta
Sinfonia de Beethoven; é o heterossexual
machão e barbudo que submete sua viril masculinidade a uma conta compartilhada
e cheia de euros e dólares; é a abastada e depressiva viúva que nas noites de
insônia troca o seu Rivotril por uma companhia
vulgar e remunerada; é a moça regatada e de família que ao encarar o mercado de
trabalho prefere os prazeres do Bataclan
aos tormentos do McDonald's; é o santo
e austero reverendo que em sua solidão celibatária resolve contratar os gozosos
serviços de alguma dama louca e de boca vermelha; é o rapaz moreno e de corpo
trigueiro que se aluga pelo preço de sua própria dignidade e consciência; é a
mulher bem casada e mãe de filhos que se cansou das praças de alimentação dos shopping
centers e aceitou um indiscreto convite para apreciar as deliciosas iguarias de
um bom Fasano. É enfim, o homem e a
mulher por trás de suas máscaras, sem quaisquer pudores, em seus principais
papéis de humanos, demasiadamente humanos...
É isso!
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Por: Iba Mendes (Agosto, 2016)
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Por: Iba Mendes (Agosto, 2016)
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