As jararacas tupiniquins
"Se quiseram matar a jararaca, não
bateram na cabeça. Bateram no rabo. A jararaca está viva. Como sempre
esteve".
Luiz
Inácio Lula da Silva, em discurso no diretório central do Partido dos
Trabalhadores (PT), em março de 2016.
Jararaca
é uma denominação comum a várias espécies de cobras peçonhentas do gênero Botrops, daí seu nome científico Bothrops jararaca.
Em
seus “Tratados da terra e gente do Brasil”, escritos entre os anos de 1583 e
1601, o Padre Jesuíta Fernão Cardim descreve da seguinte forma esta espécie de
víbora: “...têm grandes presas na boca, escondidas ao longo do queixo, e quando
mordem estendem-no como dedo de mão, têm a peçonha nas gengivas, têm os dentes
curvos, e nas costas deles um rego por onde lhe corre a peçonha. Outros dizem
que a têm dentro do dente, que é furado por dentro. Têm tão veemente peçonha
que em 24 horas, e menos, mata uma pessoa; a peçonha é muito amarela como água
de açafrão; parem muitos filhos, e algumas se acham treze na barriga.”
Outro
que também se ocupou em descrever este gênero de serpente foi o historiador Gabriel
Soares de Sousa. Em seu “Tratado Descritivo do Brasil” (de 1587) escreveu ele: “Pelos
matos e ao redor das casas se criam umas cobras a que os índios chamam
jereracas; as maiores são de sete e oito palmos de comprido, e são pardas e
brancacentas nas costas, as quais se põem às tardes ao longo dos caminhos
esperando a gente que passa, e em lhes tocando com o pé lhes dão tal picada que
se lhes não acodem logo com algum defensivo, não dura o mordido vinte e quatro
horas. Estas cobras se põem também em ramos de árvores junto dos caminhos para
morderem à gente, o que fazem muitas vezes aos índios, e quando mordem pela
manhã tem a peçonha mais força, como a víbora; as quais mordem também as éguas
e vacas, do que morrem algumas, sem se sentir de quê, senão depois que não tem
mais remédio. Têm estas cobras nos dentes presas, as quais mordem de ilhargas;
e aconteceu na capitania dos Ilhéus morder uma destas cobras um homem por cima
da bota, e não sentir coisa que lhe doesse, e zombou da cobra, mas ele morreu
ao outro dia; e vendendo-se o seu fato em leilão comprou outro homem as botas e
morreu em vinte quatro horas com lhe incharem as pernas; pelo que se buscaram
as botas, e acharam nelas a ponta do dente, como de uma agulha, que estava
metida na bota; no que se viu claro que estas jararacas têm a peçonha nos
dentes. Essas cobras se criam entre pedras e paus podres, e mudam a pele cada
ano; cuja carne os índios comem.”
Os
relatos acima, escritos em tempos remotos e sem os pormenores da Ciência, abordam o mesmo assunto levando em conta
apenas aquilo que se conhecia da realidade empírica da serpente denominada jararaca. De tais enxertos conclui-se
que essa cobra possui, entre outras, as seguintes características:
1 – É dotada de dentes grandes e potentes;
2
– É peçonhenta, isto é, venenosa;
3
– É extremamente fecunda;
4
– Faz uso da camuflagem para espreitar suas vítimas;
5 –
É traiçoeira e astuta;
6
– Troca de pele a cada ano.
Embora
esta espécie de víbora seja geograficamente distribuída em boa parte do
sudeste da América do Sul, espalhando-se desde o norte da Bahia até a
Argentina, é no Brasil que ela se prolifera em abundância.
Ao
se comparar a uma cobra jararaca, o político Lula reuniu nesse bicho as
características da sua própria classe corrupta e degradada, dentre as quais:
A
peçonha que se manifesta na forma cruel como arrebanha em seus currais eleitorais
um grande número de vítimas, as quais entregam os seus votos como escambos em
trocas de esmolas, quinquilharias e promessas que jamais serão cumpridas;
A
fecundidade com que se proliferam, deixando proles igualmente férteis que se
perpetuam em série por incontáveis gerações, mantendo as mesmas características
herdadas da família por séculos;
A habilidade
de se fazer virtuoso e caridoso, cujo fim é camuflar sua verdadeira aparência
de serpente peçonhenta e esconder seus dentes afiados por trás de falsos sorrisos e de gentilezas cosméticas;
A capacidade de se adaptar às diversas circunstâncias,
moldando seu caráter segundo suas próprias conveniências, a fim de se manter
perpetuamente no poder;
A
astúcia com a qual se metamorfoseia para agradar a todos, fazendo-se de anjo
perante a grande massa e de demônio nos porões junto com seus pares.
Enfim,
seja através da dissimulação eleitoreira, seja mediante conluios com os poderosos, as nossas jararacas políticas
destacam-se, acima de tudo, por sua capacidade de se perpetuar no poder mesmo com
suas peçonhas expostas publicamente e suas maldades postas ao escrutínio
público.
É isso!
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Por: Iba Mendes (Março, 2016)
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