Filosofia de Intestino
O cupim negro broca o âmago fino
Do teto. E traça trombas de elefantes
Com as circunvoluções extravagantes
Do seu complicadíssimo intestino.
Augusto dos Anjos
Se fôssemos eleger uma estrutura da anatomia humana que fosse capaz de exercer a função de um filósofo, esta seria o intestino.
Pensando filosoficamente e também
por metáforas, este órgão, que se estende desde o estômago até ao ânus, expõe o que há de mais vil ou desprezível no
ser humano, seu aspecto pútrido e infeto, o qual, por este mesmo viés, pode ser
estendido, também, para o âmbito de sua moral e consciência.
- Tu és mortal e hás de cheirar
mal! diria o nosso despretensioso pensador.
Os excrementos que descem pelo canal
intestinal, passam pelas tripas e se aglomeram em nossas entranhas, são as vozes
da humildade que nos alertam sobre nossa condição humana de simples mortais.
- Tu és pó e ao pó retornarás!
diria ao seu tempo esses modestos e fétidos resíduos, tomando de empréstimo o
dístico divino.
O nauseabundo cheiro dos excretos,
por sua vez, lança para fora a vã pretensão humana de superioridade e grandeza,
fazendo exalar em nossas narinas as emanações
odoríferas da nossa própria finitude e decrepitude.
- Vaidade de vaidades! Tudo é
vaidade! como diria o pregador bíblico do Eclesiastes.
Na sua essência a “filosofia de intestino” é pessimista e melancólica porque transporta o homem para junto
daquilo que ele tanto repele e do qual repulsivamente se afasta. Porém, nessa
fuga de si mesmo, ele encontra seu desígnio cinzento sob a lápide do frio mármore.
Eis aí o capítulo final das
negativas. Tal qual Brás Cubas, fina-se nas metáforas dos emplastos e desejos: “Não
alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
conheci o casamento... Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado
da nossa miséria.”
A consciência intestinal do homem
independe de sua consciência cerebral. Será ela sua eterna fatalidade, sua marca
digestiva e indelével de humanidade..
“... Sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os
dias da tua vida.”
É isso!
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Por: Iba Mendes (Setembro, 2015)
Por: Iba Mendes (Setembro, 2015)
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