O Funk na Terra do Nunca
Em seu "Manifesto da Terra do Nunca", o cantor e compositor Lobão escreve que, dos gêneros musicais cultivados no Brasil, o funk, especificamente o carioca, é “o mais genuíno estilo que o morro produz hoje em dia”. Embora do lado daqueles que entendem o funk como um gênero musical “grotesco, sexista, violento, obsceno, com letras horríveis e articulação gramatical que beira a dialetos neolíticos”, o também escritor destaca o fato do que o funk, em contraposição “à MPB de segunda, ao pagode de terceira, ao forró de quarta e ao sertanejo de última”, ainda não foi reciclado, reinventado, regurgitado, nem muito menos aprovado pelo intelectual de esquerda.
O debate em torno do funk não é de hoje, e Lobão não é o único a abordar o assunto pelo viés do confronto com os outros estilos musicais.
Desde seus primórdios nos anos
70, o funk, com suas características tupiniquins dos morros e das favelas, tem
sido veementemente atacado, rotulado, estigmatizado e condenado, especialmente
pela chamada “elite musical brasileira”, a quem Lobão denomina de
“intelectualidade de esquerda”. Segundo o rockeiro carioca: “o funk, com toda a
sua decantada precariedade estético-literária, dá de mil a zero em qualquer
grife universitária musical por justamente não ter esse filtro idiota e
pretensioso do carola estatizado”. Acrescentando que as demais grifes
musicais “são miseravelmente piores e muito mais indecentes que o funk, com
todas aquelas reboladas arreganhadamente erotizadas, pois são postiças, feitas por
pessoas postiças, direcionadas por uma doutrina culturalista postiça, logo,
incapazes de possuir a mínima condição de se estabelecer como uma cultura fruto
de uma real experiência de vida.”
O debate em torno do funk não é de hoje, e Lobão não é o único a abordar o assunto pelo viés do confronto com os outros estilos musicais.
Obviamente que é possível
discordar em muitos pontos da crítica de Lobão aos tais “intelectuais de
esquerda”, todavia, não há como divergir dele no que concerne à hipocrisia
daqueles que atacam o funk pelo seu aspecto promíscuo, mas que, aos seus modos
“chiques e perfumados”, perambulam pela mesma beirada da baixaria.
O funk, assim como qualquer outro
gênero musical, os quais, por exemplo, apresentam a mulher como uma “cadela no cio”, e que exibem suas bundas em saracoteios
humilhantes, seguem pelo mesmo esgoto da mais decadente cultura. A questão não
é, portanto, o gênero ou estilo em si, mas a maneira como fazem uso deles. O cara que me tira o sono com o “Lec, Lec,
Lec”, costuma ser o mesmo que trucida meu cérebro com o “Vidro Fumê”!
Se tomarmos puramente como
referência a “excelência” de suas letras ou as “qualidades semânticas” que se
inserem nelas, concluiremos sem muita
dificuldade que o funk, assim como o tal sertanejo universitário, tem ambos a
mesma profundidade de um pires.
Lembrando que o samba, que hoje
faz parte da nossa “boa grife intelectual”, em outros tempos fora duramente estigmatizado
como sendo “música de marginal”, além de receber muitos outros rótulos, todos
de natureza pejorativa.
Em geral, quando se tece crítica
ou se condena um determinado estilo musical, faz-se isso tendo como base aquilo
que pretensiosamente se toma como “o melhor” ou “o mais refinado”, a partir do mundo de quem aponta os "defeitos". Em outras
palavras, criticamos aquilo que não gostamos. Sim, porque música é
essencialmente “gosto”, que é como bunda: cada um tem a sua. E viva Luiz
Gonzaga, o nosso rei do baião!!!
É isso!
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Por: Iba Mendes (agosto, 2013)
Gostei...
ResponderExcluirMuito bom tiw, pena q aqueles q realmente devessem ler coisas sobre esse tema, pouco se importam se o funk é decadente ou não.....
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